Cotações dos dois produtos devem seguir caminhos opostos nos primeiros meses do próximo ano
A discussão sobre a posição “correta” de arroz e feijão no prato dos brasileiros deve ganhar novos contornos no início de 2024. É provável que não se chegue a um consenso sobre qual dos dois deve ficar por cima, mas, dadas as perspectivas para os preços nos próximos meses, é grande a possibilidade de que boa parte dos consumidores aumente a quantidade de feijão e diminua a de arroz em janeiro e que depois, a partir de março, inverta as proporções.
O preço do arroz ao consumidor acumulou alta de 17,7% neste ano até novembro, e não se prevê queda nos dois primeiros meses de 2024. Já o feijão-carioca recuou 24,2% em 2023.
A saca de arroz ao produtor saiu por R$ 130 neste mês de dezembro, valor praticado apenas no auge da pandemia de covid-19. A valorização do cereal deveu-se à combinação entre problemas de oferta no mercado internacional e falta de estoques no Brasil.
Já o feijão teve um ano de recomposição de oferta, principalmente com o bom volume da segunda de suas três safras anuais, o que pressionou as cotações a partir de maio. A saca do feijão carioca, que chegou a US$ 72 nos primeiros três meses de 2023, caiu para US$ 47 em média depois disso até novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe).
“Por enquanto, não podemos falar em perdas. A produtividade deve ficar dentro da média (…) porque o tempo encoberto em janeiro pode ajudar no desenvolvimento [das lavouras]”, disse Alexandre Velho, presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Com isso, se tudo der certo, a recomposição de mercado ocorrerá a partir de março, quando os preços ao consumidor devem retornar à faixa de R$ 5 o quilo. Hoje, é possível encontrar arroz por mais de R$ 8 em algumas praças.
Área do feijão
No caso do feijão, a queda dos preços no segundo semestre de 2023 inibiu os aumentos de área de plantio no verão. Segundo a Conab, o Brasil vai semear 858 mil hectares na primeira safra de feijão. Essa área é similar à de 2022/23, mas 19% menor que a de cinco anos atrás, diz Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe.
Lüders afirma que, como o plantio da leguminosa ocorre em todo o país, ela está sujeita a diferentes efeitos do El Niño.
“Em Minas Gerais e São Paulo, o tempo seco e o calor reduziram a taxa de germinação e abortamento das vagens. No Sul, o problema é o excesso de chuvas. Só a Bahia promete uma safra de águas melhor”, avalia.
Esse quadro gera incerteza sobre oferta e preços do feijão nos primeiros meses do ano. No momento, a saca de carioca é negociada por R$ 315 (cerca de US$ 65).