Encontro no interior de SP reuniu duzentos dos melhores pesquisadores do mundo sobre o assunto.
A ciência vive um momento de virada inédito na descoberta de como usar células-tronco para tratar doenças como Parkinson, Alzheimer, diabetes, câncer e problemas cardíacos.
Quem aponta isso é a professora Lygia Pereira, conselheira da Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco e que participou de um simpósio em Ribeirão Preto (SP) no mês passado ao lado de duzentos dos melhores pesquisadores do mundo sobre o assunto.
O g1 conversou com ela para entender os avanços das pesquisas. Confira abaixo:
🔬 Qual foi a evolução recente dos estudos?
O momento dos estudos com célula-tronco é considerado de virada, segundo Pereira, porque os testes passarão a ser feitos em maiores proporções em seres humanos, depois de resultados promissores em animais.
“A gente está vivendo um momento super interessante. Depois de muitos anos de pesquisas ousadas, mas responsáveis, em várias áreas da saúde, a gente está conseguindo sair dos testes em animais, camundongos, e começar testes em seres humanos com células-tronco pluripotentes, que podem virar qualquer tipo de tecido do nosso corpo.”
🧫 Como as células podem ajudar na prática?
Atualmente, as células-tronco já são usadas em tratamentos contra anemias, por exemplo. A ideia, agora, é avançar para outras terapias.
Como essas células têm a capacidade de se transformar em outras, uma das possibilidades estudadas é que elas sejam usadas como neurônio para tratar o Parkinson. Ou até mesmo transformá-las em produtoras de insulina para evitar a diabetes.
“A gente tem um ensaio clínico importante em Parkinson, alguns em diabetes, outro em regeneração da rotina. É muito bacana a gente ver essa transição, esse avanço para testes em ser humano. Não quer dizer que amanhã seu médico poderá te receitar um tratamento desse, mas é uma manifestação grande do avanço.”
Tratamentos com células-tronco — Foto: Getty Images
🙏 Os tratamentos são seguros?
De acordo com a especialista, os estudos realizados até o momento demonstraram que os tratamentos com células-tronco podem ser realizados de maneira segura, sem o risco de causarem, por exemplo, efeitos reversos aos pacientes.
“A gente já viu nos milhares de camundongos testados que conseguimos fazer essa terapia de uma forma segura. Essa sempre foi uma preocupação, porque essas células-tronco, por elas poderem se transformar em qualquer tipo de célula do nosso corpo, havia sempre o medo de que elas pudessem virar um tumor.”
“O que esses anos todos de pesquisa mostraram é que a gente tem a capacidade de domar essas células e fazer com que elas se transformem só do tipo de célula que vai ter um efeito terapêutico no paciente, seja um neurônio do Parkinson ou uma célula produtora de insulina para diabetes.”
O que o encontro de pesquisadores mostrou?
O simpósio em Ribeirão Preto no final de setembro reuniu pesquisadores de vários países e causou boa impressão, segundo a conselheira da Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco.
“Os pesquisadores trouxeram que estão fazendo trabalhos de ponta, desde a pesquisa básica, de a gente entender como uma célula consegue se transformar em um neurônio até usar esses conhecimentos para aplicar na terapia celular”, afirma Pereira.
📋 Quando teremos os resultados dos estudos?
A professora pondera ser difícil estipular um prazo para que os estudos em seres humanos tragam novos resultados.
No entanto, ela demonstrou otimismo ao lembrar do caso de um homem de 64 anos com diabetes que recebeu o transplante de células-tronco nos Estados Unidos e, após três meses, diminuiu em 91% a quantidade necessária de insulina que recebia diariamente (de 34 unidades para apenas 2,9).
“É super promissor. Claro, precisa ver se ele foi um caso único, quantos que foram tratados vão ter esse resultado, quanto tempo esse efeito dura, mas já são os primeiros sinais de que estamos vendo alguma eficácia e, principalmente, segurança desses trabalhos”, finalizou.
Lygia Pereira, conselheira da Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco, durante simpósio em Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/TV Globo