Suspeita foi presa durante operação que investiga tráfico de medicamentos controlados, mas conseguiu um habeas corpus. Cinco funcionários do hospital foram demitidos.
A técnica em enfermagem investigada por traficar medicamentos controlados do Hospital Estadual de Trindade (Hetrin), na Região Metropolitana de Goiânia, negou em depoimento à Polícia Civil ter fornecido morfina para a colega de trabalho Gesielly Fernandes da Silva, que morreu por overdose de anestésicos. A suspeita foi presa durante operação, mas conseguiu um habeas corpus.
O g1 não conseguiu contato com o advogado da investigada, mas à TV Anhanguera ele informou que vão provar a inocência dela no processo, mas sem dar detalhes, pois o caso está em segredo de justiça.
A TV Anhanguera teve acesso com exclusividade ao depoimento da técnica em enfermagem. No documento, ela confirma que conhecia Gesielly e que a colega constantemente a procurava pedindo morfina. Mas, segundo a mulher, nenhuma das vezes deu ou vendeu o medicamento à colega, pois sabia que ela sofria com depressão.
A suspeita foi presa na quinta-feira (16) durante uma operação da Polícia Civil em parceria com o hospital. Na casa dela foram apreendidas mais de 130 unidades de medicamentos. Segundo os policiais, ao todo, pelo menos cinco funcionários do Hetrin foram demitidos e seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
Em nota, o Hetrin disse que a equipe está colaborando com as investigações e que, assim que soube dos fatos suspeitos, a diretoria demitiu os funcionários envolvidos.
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Gesielly Fernandes da Silva, vítima de overdose, Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Sobre os medicamentos apreendidos na casa dela, a técnica em enfermagem confirmou em depoimento que eles pertenciam ao Hetrin e também a uma Unidade de Pronto Atendimento (Upa) de Trindade, onde diz ter trabalhado há algum tempo. Mesmo assim, a suspeita negou que tenha furtado os remédios. Segundo ela, eles eram de pacientes que recusaram a medicação.
“Segundo a interrogada, muitos pacientes não aceitam tomar morfina, e como seu esposo sofreu um acidente e sente muita dor, ela levava esses medicamentos para que ele tomasse”, diz o depoimento.
A Prefeitura de Trindade disse que a técnica nunca trabalhou na UPA e trabalhou apenas em áreas administrativas do Conselho Municipal de Saúde, que são áreas que não têm contato com medicamentos.
‘Ela se viciou’
Irmã de técnica em enfermagem que morreu por overdose desabafa sobre desvio de medicamento
Jhessica Fernandes, irmã da mulher que morrue, diz que a vítima comprava morfina de colegas de trabalho. Segundo a familiar, Gesielly estava depressiva e se tornou dependente do medicamento para conseguir aliviar as dores.
“Minha irmã aplicava morfina nela mesma. Ela se viciou na morfina. Nas conversas do celular dela, ela dizia que estava com dor e pedia abraços para as amigas. Ou seja, elas sabiam que minha irmã estava com depressão. Começaram a vender [a morfina], quando não vendiam, davam”, disse Jhessica.
Segundo o delegado Thiago Martinho, funcionários do hospital mentiram sobre o estado de saúde de pacientes para os médicos, para assim, conseguir a morfina e desviar o medicamento. Prints divulgados mostram Gesielly negociando o medicamento com a suspeita (veja abaixo).
De acordo com a investigação, além de morfina, técnicos de enfermagem e enfermeiros do hospital negociavam antibióticos, tramal e tramadol para terceiros. A Polícia Civil afirmou que o hospital é vítima dos crimes de peculato, associação criminosa, tráfico de drogas e homicídio.