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O que é a febre maculosa, doença que matou três pessoas em SP

A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SP) confirmou na noite desta terça-feira (13/6) que três pessoas morreram por febre maculosa, uma doença infecciosa transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) infectado pelas bactérias Rickettsia rickettsii ou Rickettsia parkeri.

As vítimas — uma mulher de 28 anos e um casal, formado por uma dentista de 36 anos e um empresário de 42 anos — contraíram a doença no município, embora não morassem lá.

Além disso, uma adolescente de 16 anos moradora de Campinas que estava internada com suspeita de febre maculosa também morreu na noite desta terça-feira. Os exames para confirmar ou descartar a doença nela estão sendo feitos no Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista — e os resultados devem ser divulgados nos próximos dias.

O órgão municipal aponta que a Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio (região leste da cidade), onde ocorreu um evento, foi o provável lugar onde as quatro pessoas foram infectadas. Todas as vítimas estiveram no local no dia 27 de maio.

A secretaria já classifica a situação como um “surto de febre maculosa”.

A cidade de Campinas e a região no entorno são considerados locais endêmicos para a doença.

“As condições ambientais daquela região fazem com que exista uma elevada prevalência tanto para os carrapatos quanto para a bactéria. Isso sugere que os animais silvestres de lá também devem ter a contaminação, mas não necessariamente esses animais ficam doentes”, aponta o infectologista Julio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Neste ano, com os casos recentes, já são cinco óbitos causados pela febre e confirmados neste município.

Em parques nas cidades de Campinas e Piracicaba — outro município no qual a febre maculosa é endêmica —, há placas que advertem os visitantes contra sentar na grama e se aproximar de animais silvestres como capivaras pelo risco aumentado de transmissão da doença.

Nem toda picada de carrapato resulta no contágio pela febre maculosa, explica Alexandre Naime, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“Mas é importante evitar o contato e ficar atento a eventuais sintomas caso haja a picada”, completa.

O uso de repelentes com o composto químico DEET, especialmente em áreas da pele desprotegidas pelas roupas, também é uma forma de se proteger contra os carrapatos.

O levantamento mais recente do Ministério da Saúde mostra que, de 2007 a 2021, foram notificados 36.497 casos de febre maculosa no Brasil, dos quais 7% foram confirmados, em uma média de 170 por ano nesse período.

Dos 2.545 casos confirmados, 2.538 relataram situações referentes à exposição de risco e, destes, 68,5% haviam frequentado ambientes de mata.

As secretarias de Saúde de cada Estado são responsáveis por informar as áreas endêmicas desta doença.

Transmissão da febre maculosa

A febre maculosa não pode ser passada diretamente de uma pessoa para outra.

Ela é transmitida pela picada de um carrapato que foi infectado pelas bactérias do gênero Rickettsia.

Quando o carrapato infectado pica uma pessoa, as bactérias entram na pele, se multiplicam nas células e entram na corrente sanguínea, causando danos nas células que revestem os pequenos vasos sanguíneos.

Isso leva a anormalidades vasculares, resultando em complicações como problemas renais, pulmonares e neurológicos.

Os sintomas mais comuns são febre, dores no corpo, vômitos e manchas na pele.

“Para um diagnóstico precoce e, consequentemente, um tratamento efetivo, é essencial que a pessoa que tenha febre após a picada de um carrapato ou frequentar locais onde há carrapatos, relate seu histórico ao médico — isso ajuda a levantar a suspeita da febre maculosa”, explica Julio Croda.

A infecção também pode levar à diminuição da produção de urina, anemia, pressão alta, acúmulo de substâncias prejudiciais no sangue, baixos níveis de sódio e cloro e baixo volume de sangue circulante.

“A infecção é sistêmica e afeta múltiplos órgãos em uma velocidade rápida. Se não for tratada precocemente, é fatal”, indica Alexandre Naime.

O período de incubação varia de 2 a 14 dias — sendo em média de 7 dias o tempo entre a picada do carrapato e as manifestações dos primeiros sintomas.

Depois da aparição dos sinais, aponta Naime, o quadro pode evoluir para a forma grave em poucos dias.

“Não tem sintomas muito específicos, clinicamente os sinais são idênticos ao da dengue e leptospirose. Então, se a pessoa não se lembra se foi picada ou não viu o carrapato, isso pode passar despercebido”, diz Naime.

Croda acrescenta que a maioria dos pacientes procura o sistema de saúde quando a situação já está grave. “Isso limita as chances de cura”, afirma o infectologista.

Para a confirmação do diagnóstico, os testes indicados são laboratoriais, como sorologia, que analisa o sangue do paciente em busca de anticorpos específicos para a bactéria causadora da doença e PCR (o mesmo exame usado para detectar covid-19), utilizado para detectar o material genético da Rickettsia no sangue.

O tratamento contra a febre maculosa é feito por meio de antibióticos, como a doxiciclina, que age combatendo as bactérias no organismo.

Quanto mais cedo é iniciado, melhores são as chances de prevenir complicações.

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