Ex-jogador foi capturado depois de deixar um show em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, e foi mantido em uma casa em Itaquaquecetuba
O ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca foi sequestrado e alvo de extorsão durante mais de 24 horas, entre a madrugada de domingo e o momento em que o cativeiro foi descoberto pela Polícia Militar. Marcelinho foi capturado depois de deixar um show do cantor Thiaguinho na noite de sábado, no estádio do Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste da capital paulista.
O ex-atleta foi mantido em uma casa em Itaquaquecetuba (SP), na Região Metropolitana de São Paulo, com uma mulher identificada como Taís Moreira. Após denúncia anônima, a polícia localizou as duas vítimas por volta do meio-dia de ontem. Cinco pessoas foram presas: duas que estariam diretamente envolvidas com o sequestro e outras três que teriam recebido valores cobrados pela soltura de Marcelinho.
Pelo menos R$ 40 mil foram transferidos das contas do ex-atleta e de um sócio, de acordo com o diretor-geral da Polícia Civil, Artur Dian. Os investigadores apuram o envolvimento de mais pessoas no crime.
Enquanto estava no cativeiro, Marcelinho chegou a gravar um vídeo ao lado de Taís em que ambos diziam ter mantido relações amorosas no show de Thiaguinho e que, por isso, teriam sido sequestrados a mando do marido dela.
Quando se encontraram, três homens encapuzados fizeram a abordagem e levaram o ex-atleta e a mulher no carro de Marcelinho, um Mercedes-Benz. Segundo investigadores da Polícia Civil, os criminosos haviam seguido o veículo do ex-jogador, mas não sabiam até então que o carro era do ídolo do Corinthians.
— Taís é minha amiga há três anos. Conheço o ex-marido dela, o Márcio, e os filhos. É uma mulher íntegra, guerreira, é minha amiga porque fui secretário de Esportes — disse Marcelinho, na sede da Polícia Civil em São Paulo, acrescentando que foi obrigado a dar a versão do adultério porque estava com uma “arma apontada na cabeça”.
A polícia ouviria o ex-marido no começo da noite, mas o depoimento não havia sido colhido até o fechamento desta edição. A princípio, está descartada a participação de Márcio no crime.
Pix e agressões
Interlocutores ligados à investigação afirmam que uma transferência de R$ 30 mil serviu como pista para a polícia chegar a três dos suspeitos presos. O valor foi exigido pelos criminosos de um sócio do ex-jogador, que fez a transferência na tarde de domingo.
A polícia conseguiu identificar o endereço do titular da conta para onde o dinheiro foi enviado, no Jardim Maia, na Zona Leste da capital. Na casa, os policiais encontraram diversos cartões bancários. Uma mulher e dois homens foram detidos.
No interrogatório, o trio disse não ter mais informações sobre o jogador e afirmou que apenas disponibilizou uma conta bancária para receber o dinheiro.
Mais tarde, na sede da Polícia Civil, no Centro de São Paulo, Marcelinho disse que foi atingido por duas coronhadas quando foi levado pelos sequestradores. O ex-jogador estava com o olho roxo.
— Depois disso não vi mais nada. Entrei no carro e colocaram um capuz em mim, dentro do meu próprio carro — relatou.
O veículo de Marcelinho foi localizado na manhã de ontem, em uma rua próxima ao local onde ficava o cativeiro em que o ex-jogador e Taís foram mantidos reféns. O Mercedes-Benz estava abandonado e destrancado, o que chamou a atenção de moradores que chamaram a Polícia Militar. O capitão da PM Nilander de Siqueira, do 35º Batalhão, de Itaquaquecetuba, acrescentou que a polícia recebeu uma denúncia anônima sobre o local onde o ex-atleta estava.
— A Polícia Militar já estava no patrulhamento, o Copom (Centro de Operações da PM) recebeu uma denúncia anônima de que havia um casal que estava em cativeiro, na Rua Ferraz de Vasconcelos. A partir dessa denúncia, os policiais fizeram a procura desse casal. Nessa casa, havia um corredor. Os policiais visualizaram duas mulheres e viram uma moto que estava parcialmente desmontada, o que indicou que poderia haver algo de ilícito ali. Os policiais continuaram no corredor e, quando subiram a escada, encontraram o Marcelinho — detalhou.
Marcelinho também atuou no Flamengo, no Valencia (da Espanha), no Santos, no Gamba Osaka (Japão), no Vasco, no Al-Nassr (Arábia Saudita), no Ajaccio (França), no Brasiliense e no Santo André. Depois de encerrar sua carreira no futebol, chegou a ocupar um cargo na Câmara dos Deputados por um breve período, em 2015.
reportagem: oglobo